O Governo Federal declarou a liberação de, até, 50% para investir o FGTS na Eletrobrás, um investimento, em um primeiro momento, interessante para os trabalhadores. Mas será que é uma boa opção aos olhos da Educação Financeira?
Por | Reinaldo Domingos
Até a próxima quarta-feira (08/06) os investidores pessoas físicas poderão realizar o pedido de reserva de ações da Eletrobras, tanto diretamente quanto também indiretamente, usando parte do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS).
O tema está movimentando o mercado, porém, para os trabalhadores todo cuidado é pouco.
A expectativa é que a oferta movimente em torno de R$ 30 bilhões no total e a precificação está prevista para a próxima quinta-feira (09/06).
Quem quiser investir o FGTS na Eletrobras terá que usar pelo menos R$ 200,00 e precisará respeitar o limite máximo de investimento equivalente a 50% do saldo disponível em cada conta vinculada do FGTS.
Contudo, em uma avaliação mais profunda sobre o tema, por mais que essa opção seja para muitos um caminho para investir de forma diferente, ela também esconde um grande risco para os trabalhadores, principalmente em relação ao FGTS.
Se for feita apenas uma análise fria do (economês) dos juros dos ganhos sobre o FGTS, certamente os trabalhadores vão ceder e decidir aproveitar o momento, realizando o pedido de reserva de ações da Eletrobras.
Porém, não se pode pensar dessa forma, tendo a falsa ilusão que esta decisão vai trazer grandes benefícios. É preciso ir além, visando o verdadeiro sentido sobre o FGTS.
Esse fundo é um seguro do trabalhador, totalmente realizado por meio dos depósitos do empregador, protegido, impenhorável e tem como principal finalidade proporcionar tranquilidade futura, seja no seu percurso profissional, seja na sua aposentadoria.
Sem contar que o valor também pode possibilitar a compra da casa própria.
Um ponto importante em relação ao tema é que ao sair desse fundo conservador, que é o FGTS e transferir para ações, é tomada a decisão de empreender e não investir.
Trata-se de uma opção de ganho variável e de risco. A ação poderá valorizar ou desvalorizar e nesse último caso fazer com que o trabalhador perca dinheiro.
Por isso fica a pergunta, será mesmo que pegar o dinheiro que tem o retorno certo para o trabalhador e transferir para um empreendimento de risco está correto? Eu afirmo que não.
No universo da educação financeira, em relação a guardar dinheiro, se aprende que os juros são parte da análise. Entretanto, tem muito mais para ser observado.
Assim, mesmo em caso de rendimento que não parece muito convidativo e que rendeu nos últimos anos em média de 5% ao ano (caso do FGTS) é preciso observar a sua liquidez, por exemplo, em caso de uma possível demissão no próximo ano.
Se isso acontecer, o dinheiro transferido para essas ações, não poderá ser resgatado.
E, o mais importante, quem garante que as ações da Eletrobrás serão comercializadas de forma justa? E o pior, quando finalizar essa operação com qual valor monetário estarão essas ações?
A opção pode ser válida para alguns, contudo acredito que o Governo poderia ampliar as opções para os trabalhadores.
Como seria o caso de utilizar o valor do FGTS para investir no Tesouro Selic. Com isso se garantiria uma melhor remuneração desse dinheiro ao trabalhador, comparado com o rendimento hoje do FGTS.
Essa história é antiga, já tendo ocorrido a oportunidade de transferir dinheiro do FGTS para ações da Petrobrás, por exemplo, quando muitos perderam dinheiro com ações, pois não sabiam mexer com esse produto.
Assim, como profissional da educação financeira, não posso apoiar essa decisão sem esclarecer melhor os trabalhadores sobre o tema.
Também é preciso dar outras opções para o trabalhador e sempre reforçar sobre a importância do FGTS para o futuro, sendo esse dinheiro fundamental para as pessoas e seus familiares.
Reinaldo Domingos é presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira - ABEFIN e da DSOP Educação Financeira. Está à frente do canal Dinheiro à Vista. É PhD em Educação Financeira. Autor de mais de 100 obras sobre o tema, entre elas o best-seller Terapia Financeira e Por que enfrentamos Crises e não estamos preparados?