Em mais de 17 anos como leiloeiro público oficial, pude presenciar incontáveis devoluções e apreensões de veículos de pessoas que não conseguiam pagar as prestações do financiamento de carro. Pessoas de bem, responsáveis que, muitas vezes, perderam seus empregos ou passaram por situações que os impediam de continuar com o compromisso do pagamento das parcelas. No entanto a grande maioria, infelizmente, sofre por não terem feito um planejamento financeiro adequado antes de adquirir o veículo financiado.Há algum tempo atrás, comprar um carro zero quilômetro financiado era muito fácil, por isso muitos veículos apreendidos hoje são remanescentes daquela época, quando era possível entrar numa loja ou concessionária e sair com um carro e um carnê com 60, 72 parcelas, sem dar nenhum centavo de entrada. Os tempos mudaram e o crédito hoje não está tão fácil assim.Vale explicar que o veículo é o bem dado em garantia pelo valor que foi usado para a compra do mesmo, ou seja, não é o carro que foi financiado e sim o dinheiro que o banco emprestou para a sua compra.Em geral, após três ou mais parcelas em atraso, o banco pode, por meio da justiça, requerer a busca e apreensão do veículo. Este processo é rápido e normalmente acontece quando não há acordo firmado entre o banco e o financiado para a quitação das parcelas em atraso. Nestes casos, com a ordem judicial em mãos, um oficial de justiça vai até o endereço do financiado e retoma o veículo, encaminhando-o para a venda em leilão.Há também a chamada “entrega amigável”, quando o cliente inadimplente faz um acordo para a entrega de seu veículo (dado em garantia) ao banco ou financeira, sem a necessidade de um processo judicial ou qualquer tipo de execução.Seja por apreensão ou entrega amigável, viver esta situação é um trauma financeiro e emocional de grandes proporções que atinge não só o financiado, mas também a toda sua família.Sendo apreendido ou entregue, o carro é destinado para a venda em leilão público oficial, realizado por leiloeiro devidamente habilitado, contratado pelo banco ou financeira ou indicado pelo Judiciário.O papel do leiloeiro é apurar a maior oferta de valor possível, vinda dos interessados na compra daquele veículo. Este valor apurado é repassado ao banco, que fará uma composição para amortizar ou eliminar a dívida do financiado. Se o valor apurado no leilão for maior do que a dívida, o banco devolve a diferença para o cliente, mas se não for suficiente, o saldo ou resíduo será cobrado do devedor.A razão mais comum, na maioria dos casos, da perda do veículo financiado é a falta de planejamento financeiro e de educação financeira. Claro que o desemprego é um fator determinante nesta situação mas, acredite, muitas pessoas compram um carro muito acima das suas possibilidades de pagamento, por conta do status do modelo, muitas vezes incoerente com seu poder de compra e manutenção.