Há quem diga sobre o consumo: “fazer compras me faz bem!” Fico pensando, será que as lojas passaram a vender pílulas da felicidade?“Estou deprimido? Compro!”, “Estou ansioso? Compro!”, “Estou mal-humorado? Triste? Angustiado? Compro, compro, compro!”Tudo indica que as lojas têm funcionado como farmácias. Como se cada situação estressante fosse solucionada nas “compras terapêuticas”. Zygmunt Bauman, no livro "44 cartas do mundo líquido moderno", adverte o leitor sobre a mudança de papéis quando a pessoa é “consumida” pelo status do objeto que deseja.Em outras palavras, as pessoas não consumem a roupa, o celular e o carro, e sim são consumidas por elas. Pagam, muita vezes, para fazer uma “propaganda ambulante” das marcas e dos produtos que consomem. Seja em nome da inserção social, seja em nome do alívio do estresse, dezenas de milhares de brasileiros estão endividados.A associação entre consumo e felicidade é paradoxal em nossa sociedade. A inclusão e exclusão social estão dadas pelo consumo. Tanto que os crimes de outrora eram famélicos e hoje a maioria dos crimes são por status. Em 1950, por exemplo, roubava-se para matar a fome da família.Hoje o rapinante quer o Iphone 6; por não aceitar que não poder ter, comete as mais absurdas barbáries. Há o entendimento de que está fora dos padrões aquele que não tem, não usa e não consome o que as mídias anunciam.E de que forma é possível reverter esta alarmante estatística? Pela educação financeira. Muitos de nós, brasileiros, não aprendem isso em casa, muito menos na escola. Mas é algo que pode ser aprendido ao longo da vida.Perceba que o atraso ou a demora no tratamento mais aprofundado e específico da educação financeira tem relação direta com a histórica da instabilidade econômica do país. Aprendemos com os nossos pais a seguinte matemática: salário menos contas para pagar = sobra ou dívida. Sendo que dificilmente há sobra, o comum é que alguma conta fique em atraso.As implicações do uso do crédito sem planejamento são prejudiciais para todos. A alta da inadimplência gera perdas para os emprestadores, que apertam o cinto para novas concessões. Os consumidores preocupados usam os resultados do período como aprendizado e passam a ficar mais contidos, mais cientes de seus limites e mais interessados em programas que melhorem a sua relação com o dinheiro no longo prazo.Fica, portanto, aberta a oportunidade para que finalmente a educação financeira promova o planejamento como caminho sustentável para a prosperidade. Assim, após mais de duas décadas, a educação financeira chega a sua verdadeira vocação: promover, de forma proativa, uma relação saudável do brasileiro com o dinheiro.A educação financeira tem enorme potencial para contribuir com a construção de uma economia mais sólida, em que a prosperidade é finalmente entendida como o equilíbrio hoje e a conquista de patrimônio no futuro.